Na América do século XIX, uma forma peculiar de entretenimento tomou o palco: artistas brancos, rostos manchados com maquiagem escura, sorrindo e dançando em imitações exageradas e horríveis de pessoas negras. O que começou como um espetáculo grotesco cruzaria oceanos, sobreviveria séculos e se incorporaria ao tecido da cultura popular ao redor do mundo. O blackface, nascido do casamento tóxico de racismo e entretenimento, tornou-se não apenas uma performance, mas um reflexo do racismo mais profundo da sociedade.
Inclusive, Fernanda Torres pediu desculpas recentemente por ter feito blackface em um programa de TV há 17 anos após um vídeo mostrando a indicada ao Oscar de Melhor Atriz pelo filme 'Ainda Estou Aqui' (2024) interpretando uma empregada doméstica negra voltar a circular na internet. Essa performance aconteceu em uma esquete da série 'S-xo Oposto', exibida em 2008. Na ocasião, a filha de Fernanda Montenegro contracenava com Evandro Mesquita e vivia personagens diferentes ao falar sobre as diferenças de gênero entre homens e mulheres. Uma dessas figuras era uma funcionária com traços caricaturados, além da pele negra.
Em declaração ao portal americano Deadline, Torres fez questão de admitir o erro. "Sinto muito por isso. Estou fazendo esta declaração porque é importante para mim abordar isso rapidamente para evitar mais dor e confusão". "Naquela época, apesar dos esforços dos movimentos e organizações negras, a conscientização da história racista e do simbolismo do blackface ainda não havia entrado na consciência pública dominante no Brasil. Graças a uma melhor compreensão cultural e a conquistas importantes, mas incompletas, neste século, está muito claro agora em nosso país e em todos os lugares que o blackface nunca é aceitável", destacou.
"Esta é uma conversa importante que devemos continuar a ter uns com os outros para evitar a normalização de práticas racistas de então e de agora. Como artista e cidadã global, e de coração aberto, permaneço atenta e comprometida com a busca de mudanças vitais necessárias para viver em um mundo livre de desigualdade e racismo", completou.
Mas como algo tão desumanizante conseguiu persistir por tanto tempo, e o que sua resistência até hoje revela sobre as correntes mais profundas de racismo que ainda percorrem nossa cultura? Clique nesta galeria para descobrir.